A farra carnavalesca da “política” arapiraquense travestida de manifestação social.

  • Helder Lopes
  • 27/02/2014 17:34
  • Helder Lopes

Caros leitores e leitoras,

Hoje o blog traz algo inédito. Compartilho com vocês um texto de um grande amigo. Explico:

Quem acompanha minhas postagens no twitter deve ter visto alguns comentários meus a respeito da “caminhada pela paz” realizada ontem (26/02), em Arapiraca.

Resumidamente, até pela limitação de caracteres da rede social, expressei minha contrariedade ao ato promovido/bancado pela Prefeitura de Arapiraca. Estudava a possibilidade de escrever sobre esse tema aqui no blog. Foi aí que tomei conhecimento de que meu amigo Diego Oliveira havia escrito a respeito em seu facebook. Depois de ler, pensei: “é isso! Ele foi ao cerne da questão.”

Mesmo em se tratando de um texto postado em uma rede social, sem nenhum compromisso com a formalidade, Diego conseguiu fazer uma leitura muito apropriada do fato. Assim, devidamente autorizado pelo autor, tomo a liberdade de reproduzir, aqui, suas palavras (a começar pelo título), subscrevendo-o, por estar inteiramente de acordo com seu conteúdo.

Antes, faço uma breve apresentação do autor:

Diego de Oliveira Souza é professor efetivo do curso de graduação da Escola de Enfermagem e Farmácia da Universidade Federal de Alagoas – ESENFAR/UFAL – Campus Arapiraca. Enfermeiro graduado pela ESENFAR/UFAL. Especialista em Saúde do Trabalhador, Mestre em Trabalho, Política e Sociedade e Doutorando em Trabalho e Política Social.

Dito isto, proponho a reflexão...

Como sabem, não costumo vir ao facebook debater minhas inquietações, costumo fazer uso de outros espaços para isso.

Contudo, não posso negar a dimensão que os assuntos assumem neste espaço e, diante disso, decidi fazer meu desabafo diário aqui. Apenas o “teatro” dissimulado da “política” arapiraquense para me convencer disso.

Hoje presenciei o suposto manifesto contra a violência, conduzido pela gestão municipal, em parceria com algumas outras instituições. Pois bem, compareci ao referido evento, mas não suportei ficar por 10 minutos completos.

Assisti a um dos mais kafkianos eventos que pude presenciar nesta minha breve trajetória. Tratou-se de um protesto no qual a maioria de seus participantes parecia ter “caído de pára-quedas”, devido a um ultimato feito pela instituição a qual se vinculam.

Não há debate sistematizado, não há organicidade, não há massa mobilizada pelos seus representantes genuínos, não há uma agenda séria de luta contra a violência.

Devo ser justo, existem pessoas imbuídas da melhor intenção; elas estavam apoiando uma causa cuja reivindicação é muito justa.

Entretanto, estava estampada nos vários rostos a falta de direção, de substância. Temos muito mais a forma do que o conteúdo.

Posso estar forçando a mão, mas, ao que me pareceu, a preocupação maior era com a cor da camisa. Sinto quebrar a ilusão: mas a cor da camisa pouco importa.

Ah! Não podemos esquecer de um dos objetivos que se mostraram imprescindíveis no ato de hoje: exaltar a gestão pública (nos 10 minutos que consegui participar, escutei o nome do gestor(A) ou da gestão por três vezes).

Não ouso afirmar que, talvez, não existam pessoas seriíssimas no interior da gestão, com propostas pontuais para o problema da violência e outros tantos. Mas, se existem, vêm sendo esfaceladas pela lógica de nossa política carnavalesca, que tem protagonizado o “ato” já costumeiro de precariedade nos setores públicos, em especial nos últimos e primeiros meses do ano.

Quem está nos serviços públicos sabe muito bem o caos ao qual me refiro. Mais do que levarmos as pessoas às ruas, precisamos fazê-las debater e entender a essência da problemática. Quanto a isso estamos sendo insipientes, quando não omissos (e não me isento disso).

Enfim, a boa intenção não vem nos bastando. A história prova que ela quase sempre é um dos pilares das manobras de massa. Muito oba-oba e pouca ação. Mas, em tempos de carnaval, nada mais adequado do que uma farra travestida de “política”.

Desculpem o longo desabafo, mas tinha muito a dizer.

É isso, senhoras e senhores. Pensemos a respeito.

 

"O acaso encontra sempre quem saiba aproveitar-se dele."

Romain Rolland

 

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