A democracia do aplauso

  • Helder Lopes
  • 10/06/2013 16:53
  • Helder Lopes

Hoje tratarei de um tema sobre o qual há tempos tenho refletido. Inclusive já fiz alguns comentários a respeito no microblog twitter: a democracia do aplauso.

Primeiramente, devo reconhecer que não sou o criador da expressão. O autor é o deputado estadual do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marcelo Freixo, que a utilizava com certa frequência durante a disputa eleitoral de 2012, quando foi candidato a prefeito na capital fluminense.

Freixo não conseguiu se eleger prefeito do Rio. Sequer houve segundo turno, tendo em vista que Eduardo Paes (PMDB) foi reeleito para o cargo já no primeiro. Mesmo sem a vitória nas urnas a campanha do jovem deputado psolista chamou bastante a minha atenção, que por vezes parei para escutar aquilo que Marcelo Freixo tinha a dizer aos cariocas.

E uma das coisas que Marcelo dizia é que o Rio vivia uma "democracia do aplauso", em que a participação popular era muito bem vinda, desde que fosse para aplaudir as ações dos gestores públicos.

Essas palavras, em que pese terem sido ditas para o eleitorado carioca, não deixam de caber perfeitamente para tantas outras cidades Brasil adentro.

É muito comum, infelizmente, a prática da democracia do aplauso. Ela se manifesta de várias formas, todas elas danosas. Quando se induz, ou até mesmo se obriga o pensamento único, buscando sufocar as vozes divergentes, o contraditório, a sociedade perde.

Há uma frase atribuída ao filósofo iluminista francês Voltaire, que diz:

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las."

Esse pensamento de Voltaire reflete bem o que significa uma postura tolerante, em que há respeito pelo diferente, pelas infinitas formas de pensar, de agir. Não é uma tarefa fácil, sabemos, mas o respeito ao contraditório é um exercício democrático.

Quando por quaisquer práticas se trabalha para calar a voz divergente, não é a pessoa que está sendo atacada, mas sim a própria democracia, impedida de ser exercida na sua plenitude.

Uma democracia do aplauso não serve. Cega a quem está no exercício do Poder.

Santo Agostinho, há séculos, já tinha chegado a essa conclusão, com a sabedoria que lhe era peculiar, disse:

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem.”

Não teria a ousadia de acrescentar nada mais depois de tão sábias palavras.

Uma excelente semana a todos.

 

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