Números, o que eles podem nos dizer?

  • Helder Lopes
  • 07/10/2014 07:44
  • Helder Lopes

Fomos às urnas no último domingo escolher nossos Deputados, estaduais e federais, Senador, Governador e Presidente. Com o resultado já conhecido, ouso fazer uma análise, sempre com uma visão a partir de Arapiraca.

Deputado Estadual:

Os dois candidatos da terra que concorreram à reeleição renovaram seus mandatos sem sustos. Nezinho e Pessoa foram, respectivamente, o 2º e o 3º mais votados na cidade, conquistaram 18% e 12% dos votos válidos.

Ambos aumentaram seu eleitorado se compararmos a eleição de 2010. Esse crescimento, no entanto, se deu principalmente fora de Arapiraca.

Severino Pessoa praticamente manteve a votação de 4 anos atrás no município, mas saltou de 16 mil para 31 mil na apuração geral, algo impressionante para quem exerceu um mandato marcado pela descrição e silêncio sepulcral.

Nezinho também parece ter passado incólume pela relatoria da emenda ao orçamento que reduziu o duodécimo do Ministério Público, pois o fato não afetou sua votação. Ricardo Nezinho seria o nome com maior estofo político para candidatar-se à sucessão de Luciano Barbosa na eleição municipal de 2012, mas foi preterido e a impressão que tenho é que o bonde passou e ele perdeu o embarque. Isso considerando a manutenção da unidade desse grupo político por mais alguns anos, claro.

Tarcizo Freire, o Deputado Estadual mais votado em Arapiraca (21%), teve um crescimento muito grande se comparado com 2010. Naquela eleição Freire obteve 14 mil votos no estado. Hoje é deputado eleito com mais de 29 mil votos, dos quais 21 mil conquistados em casa. Após muitos anos na Câmara de Vereadores ele finalmente conquistou um mandato na ALE. Não o vejo, ainda, com perfil de executivo, mas sai fortalecido das urnas.

O 4º mais votado na cidade foi Rodrigo Cunha. Jovem e sem nunca ter exercido nenhum mandato eletivo, Rodrigo surpreendeu por ter se consagrado o Deputado Estadual mais votado de Alagoas nesse pleito. Foram mais de 60 mil votos no estado, dos quais 8.466 em Arapiraca (8,5% dos votos válidos do município).

Rodrigo com essa votação se habilita a ter voz e vez na política local, deve ser um dos líderes da oposição ao Governador eleito Renan Filho.

Em Arapiraca, o percentual de votos de Rodrigo não foi tão expressivo quanto o de seus novos colegas (Freire, Nezinho e Pessoa), mas é preciso considerar que Rodrigo não tinha mandato, não contou com o apoio da máquina municipal e optou por uma forma diferente de fazer campanha, alicerçada no voluntariado e no uso intenso das redes sociais. Buscou o voto em uma faixa do eleitorado que ainda é muito pouco explorada por aqui, o voto de opinião. O resultado das urnas me dá a esperança de que podemos estar assistindo ao surgimento de uma nova liderança, de alguém que possa oxigenar os rumos da política alagoana, e mais especificamente da política arapiraquense.

Sei que é preciso ter cautela, afinal Rodrigo vai iniciar seu primeiro mandato eletivo e está entrando agora no cenário. Mas por outro lado uma parcela significativa do eleitorado tem pressa em encontrar um líder viável para conduzir a oposição na cidade e enxergam nele essa figura. Faço parte desse grupo.

Deputado Federal:

Seguindo o raciocínio, somando-se os votos dos 4 deputados citados (eleitos) mais a votação do 5º mais votado na cidade (Alves Correia com 5,7% dos votos) percebemos que cerca de 66% dos arapiraquenses votaram em candidatos de Arapiraca, ou seja, 2 em cada 3 eleitores escolheram candidatos identificados com a cidade, independente do apoio político da administração.

Se na eleição para Estadual os 5 mais votados em Arapiraca (66% dos votos) foram candidatos identificados com o município, na disputa para Federal o quadro não se repetiu.

Apesar de Rogério Teófilo ter sido o mais votado na cidade, com mais de 32% dos votos válidos, e Júlio Houly e Dorge do Queijo terem conquistando, respectivamente, 7,4% e 6,1% dos votos, “apenas” 45% dos eleitores arapiraquenses votaram em um candidato da terra para seu federal.

Em 2010 esse percentual havia sido bem maior. Naquela eleição 66% dos votos foram para Célia Rocha, que 2 anos depois renunciou ao mandato para assumir novamente a Administração Municipal.

E falando em Rocha, os seus 3 candidatos, somados, conseguiram pouco menos de 17 mil votos. Ronaldo Lessa (8%), Paulão (6%) e Nivaldo Albuquerque (3,7%). Aqui faço uma ressalva à votação de JHC no município. Mesmo sem ser da terra JHC conquistou mais de 4 mil votos na cidade. Obteve um resultado melhor que Nivaldo Albuquerque. JHC é o campeão de votos no estado e Nivaldo ficou com a 1ª suplência.

Importante perceber como a imposição dos nomes trazidos pelo grupo político de Rocha, Renan e Collor atrapalhou muito a eleição de um Federal de Arapiraca. O segundo maior colégio eleitoral do estado mais uma vez fica órfão de uma representação na Câmara dos Deputados. Entendo que não é renunciando (ou negociando) espaços políticos já conquistados que Arapiraca será protagonista no cenário regional.

Na disputa majoritária não houve nenhuma surpresa. Os candidatos do grupo: Collor; Renan Filho e Dilma nadaram de braçada.

Heloísa Helena, como previsto, não conseguiu fazer frente à estrutura de campanha montada para reeleger Collor ao Senado. Nessa eleição para o Senado outro fato nos chama a atenção: o percentual de votos inválidos. Arapiraca registrou mais de 20% de votos brancos ou nulos. Esse cenário se repetiu em todo o estado. Aqui foram quase 23 mil eleitores que se negaram a escolher uma das opções postas. Dos votos válidos 85.765 (o universo é de 128.775), Collor obteve 60%, Heloísa 32% e Omar 7%. A missão foi cumprida com sucesso pelos colloridos!

Para o governo do estado aconteceu algo muito semelhante à eleição para o Senado. Alto número de votos inválidos e uma grande vantagem pró Renan Filho, maior até que a registrada na eleição de Senador, diga-se. Dois fatores podem explicar isso: a presença de Luciano Barbosa como candidato à vice e a rejeição que Collor ainda carrega, apesar de todo o trabalho de comunicação feito para renovar a imagem do ex-Presidente.

Em Arapiraca, Renan obteve 64% dos votos válidos, ao tempo em que Biu ficou com 27%. Um nocaute avassalador. Collor e Renan Filho foram os mais votados no município e abriram grande vantagem para seus adversários mais próximos.

Na eleição para a presidência da República o eleitor arapiraquense seguiu a tendência do Nordeste (salvo Pernambuco) e fez de Dilma a mais votada nesse 1º turno (46%), seguida por Marina (27%) e Aécio (24%). A vantagem da atual presidente não foi tão expressiva quanto à dos demais aliados. A eleição presidencial é mais fria mesmo e a cobrança por resultados não é tão grande quanto na disputa local. No 2º turno deve haver um trabalho mais intenso visado manter a vantagem de votos que Dilma tem por aqui.

Está comprovada, mais uma vez, a grande força política que as Administrações Municipais exercem sobre parte do eleitorado. As máquinas têm muita capilaridade e mobilizam um grande quantitativo de pessoas e lideranças. Isso tem interferência direta no processo eleitoral.

É evidente que também devemos considerar a forma como o tabuleiro foi montado para esse pleito. O contexto e as opções postas deixaram muitos eleitores sem perspectivas (é só observar o grande quantitativo de brancos e nulos nas eleições para Governador e Senador). Mas mesmo diante desse quadro, percebemos também que há espaço para o surgimento de novas ideias e atitudes.

Que os eleitos cumpram com seus deveres e honrem os cargos que irão exercer e que nós, sociedade, possamos ser mais atentos às atitudes dos nossos representantes no exercício dos mandatos que lhes outorgamos.

 

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