Os 60 anos de Feira Grande

  • Márcio Pedro
  • 28/04/2014 09:46
  • Márcio Pedro
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A pequena e jovem cidade do agreste alagoano, conhecida e comprovada como a maior produtora de batata-doce do estado completa seus 60 anos de existência. Conhecida também por atuais campanhas politicas milionárias, e pelo acidente que vitimou 12 pessoas em uma procissão na praça da igreja. É uma cidade que só recebe visitantes à negócios, devido sua localização não disponibilizar rotas de passagem. Atualmente soma uma população de 22.377 habitantes, e aumentando... É considerada uma cidade ruralista, pois 80 % da população não vivem na cidade. Mais afinal de contas o que podemos comemorar nesses sessenta anos de existência? Todo aniversariante tem uma historia para contar. A cidade nos conta o quê?

Com o índice de desenvolvimento humano de apenas 0,533 perde para as vizinhas de mesmo porte como Lagoa da Canoa e São Sebastião, porem tem a feira livre mais famosa (ainda é?). Não tem indústrias significativas, a população vive da roça e da prefeitura que oferece vagas de trabalho a uma parte da população. Oferece uma morada tranquila e sossegada à quem não tem pretensão de enfrentar o estresse e a grande violência das grandes cidades, apesar de que as drogas já encontrou o caminho de lá. A violência, esporadicamente se mostra viva, indicando que apesar de pequena, a cidade é feita de gente, aliás todo tipo de gente. Ultimamente tem recebido novos moradores, e às vezes me pergunto se estou na cidade da batata-doce, uma vez que sempre vejo caras novas vivendo por lá. A população já não é formada apenas de uma meia dúzia de famílias como nos anos 80, onde algumas pessoas ainda insistem em afirmar.

É uma cidade de terra fértil e gente disposta a todo dia acordar cedo para tirar o leite do gado, cuidar da lavoura e vender nas pequenas lojas da cidade. O jumento foi trocado pela moto, a carroça de burro ainda permanece, mas está com o tempo contado. É uma cidade multicultural, de várias concepções religiosas e uma tradição inviolável.

Cresci até meus 17 anos com medo de comer leite com abacaxi, nem tomar agua antes de uma hora depois de comer jaca mole. Tinha que ir às missas todos os domingos e rezar antes de dormir. O meu cordão umbilical, como o dos meus irmãos foi enterrado em curral de gado como rezava a tradição de lá. O dente mole tinha que ser jogado na telha da casa. Imagem de santo era obrigatória em todas as casas, e rezadores faziam milagres.

A chuva continua sendo a alegria daquele povo empírico que aguarda ansioso “São Pedro” molhar a terra. Tinha também uma historia de saber escolher bem o cabelereiro para não fazerem “caminho de rato” na cabeça da gente que ia cortar o cabelo. O almoço era servido sempre ao meio dia e a farinha de mandioca era item indispensável. Algumas destas tradições eu ainda não consegui me libertar. Nesse tempo a cidade já tinha 40 anos de idade. Creio que essas tradições e mais outras ainda se perpetuam pelo imaginário feira-grandense.

Vinte anos se passaram, e Feira Grande teve alguns avanços na área politica, social, cultural e principalmente educacional. Muitos filhos da cidade hoje são doutores, professores conceituados, e outros vários profissionais saíram da cidade para galgar novos conhecimentos e ganhar dinheiro fora. Não é mentira que muitas pessoas têm a cidade como sinônimo de pessoas inteligentes. As diferenças sociais ainda existem como também o preconceito, mais isso não é prerrogativa só de Feira Grande.

 Acredito muito naquelas pessoas que lutam todos os dias para, mesmo que em um ritmo lento, trazer para cidade, que já se chamou Mocambo o nome “Grande” para a educação, economia, justiça, saúde, e o bem-está  daquela população.

Parabéns a todos que contribuíram direta e indiretamente com o crescimento desta cidade durante esses 60 anos de comemoração. Ponto final!