Baleado em escola confirma versão da PM sobre socorro

  • Redação
  • 02/05/2011 05:36
  • Brasil/Mundo

A rotina adolescente, os jogos de computador. Normalidade traída por brancos na memória.

Edson: Não consigo lembrar de muitas coisas.

Fantástico: Que partes você esqueceu?
Edson: Muitas coisas, alguns amigos, nomes dos amigos, isso eu não lembro muito.

Fantástico: Você consegue se lembrar como é que tudo começou naquele dia 7 de abril?
Edson: Consigo.

Fantástico: Como é que foi, ele chegou como na sala?
Edson: Ele chegou andando normal, como se tivesse invadindo a sala, deixou a bolsa em cima da mesa e carregou a arma.

Fantástico: Ele carregou a arma na frente de vocês?
Edson: Na frente. Na verdade, eu pensei que fosse uma brincadeira quando ele entrou na sala. Aí, eu não saí. Aí, eu vi alguns saindo, alguns ficando. Eu fiquei dentro da sala.

Fantástico: E quando é que foi que você se deu conta de que isso não era uma brincadeira?
Edson: Quando eu levei o tiro.

Fantástico: Qual foi o tiro primeiro que você levou?
Edson: Foi na barriga.
Fantástico: E depois?
Edson: Depois foi outro na barriga.

O menino mal sentiu as balas que perfuraram seu abdômen.

Edson: Aí, quando ele chegou perto de mim, eu fiz assim, fiz sinal para ele parar.
Fantástico: Quando você colocou a mão na frente, você pediu alguma coisa para ele? Para ele não atirar em você?
Edson: Falei para ele não atirar, mas ele ficou me olhando, não atirou por um minuto, depois ele atirou. Foi quando ele mirou e depois atirou.

A terceira bala furou a mão, entrou por baixo da orelha, cruzou a mandíbula e foi se alojar do outro lado.

A sequência dessa história, o Brasil inteiro viu nas imagens chocantes da câmera interna da escola Tasso da Silveira. O menino agonizando no corredor.

Fantástico: Como é que você sentiu vendo aquela imagem?
Edson: Eu não cheguei a me ver direito, não pensei que fosse eu.
Fantástico: Você não se reconheceu no vídeo?
Edson: Não. Eu não me reconheci, pensei que fosse outra pessoa. Aí, depois que eu olhei bem, vi que era eu.

Edson: Eu fiquei lá atrás esperando ele sair da sala. Foi quando eu ouvi os tiros e saí andando, eu vi o policial na porta, eu saí andando. Eu usei um pouco das forças que eu tinha e fui andando até a porta, quando cheguei na porta eu caí e fiquei deitado lá no chão.

Fantástico: E quais são as memórias que você tem deste momento que você estava caído ali no chão?
Menino: Só das pessoas passando. Pessoas passam, olham, mais preocupadas com os filhos. Eu olhava e só via as pessoas passando. Elas me olhavam, olhavam, alguns paravam ficavam olhando e outros não. Outros olhavam, passavam, corriam.

Fantástico: Mas, ninguém tomava uma atitude?
Menino: Não, ninguém. Teve um que ia me perguntar se eu estava bem, ia me tocar. Só que o policial falou, chegou e falou: ‘Não toca nele não, porque pode piorar a situação. É melhor esperar o bombeiro chegar’.

Edson confirma o que a polícia disse na época: que evitou tocar nos feridos até a chegada dos bombeiros.

Fantástico: Quando tempo durou aquilo?
Menino: Não sei não. Cerca de dois, três minutos assim.

Foram quase dez minutos.

Edson: Sério? Não fazia ideia. Parecia que foi tão rápido, as coisas. Eu pensei que eu ia morrer, pensei que ia morrer.

Fantástico: O que passa na cabeça de um menino de 14 anos que acha que está prestes a morrer?
Edson: Não sei te explicar direito não. É meio maluco, é meio uma tonteira. A pessoa fica tonta, sem saber das coisas, até cair na real.

Fantástico: Você sentiu muito medo?
Edson: Muito medo.

Quando os bombeiros chegaram, Edson sentiu que estava salvo. Passou três dias em coma, três semanas internado. Perdeu muito peso e um pouco da audição.

Fantástico: Você está ouvindo bem dos dois lados?
Edson: Só do lado direito, do lado esquerdo eu não ouço muito bem.

Ele se recupera com o carinho e os cuidados da mãe.

Fantástico: Como é que está a cabeça dele?
Gisele Alves: Ele diz que está bem, mas dá para perceber que não. Porque ele quase não dorme à noite. Ele acorda 3h, 5h. Aí finge que vai no banheiro, aí vem na cozinha pega alguma coisa e volta de novo.

Edson: Eu já superei isso e posso falar à vontade. Mas, vai me atrapalhar, não vai mesmo.
Fantástico: Não vai impedir que você construa sua vida?
Edson: Não, não vai. Faz parte da vida. O que aconteceu, aconteceu, tem que seguir em frente.

Fantástico: Você considera superado?
Edson: Antes para mim era difícil falar sobre isso, eu chorava. Mas, depois, eu superei. Falo como se fossem só palavras.

Só o tempo vai dizer se esse menino, que sonha ser oficial do Exército, superou um choque que traumatizou toda a nação. Mas um bom sinal vem das poucas horas de sono.

Edson: Até hoje eu só tive sonhos.
Fantástico: Sonhos? E como é que são estes sonhos?
Edson: Reencontrando com os amigos, comendo.
Fantástico: Você acha que é possível ser feliz depois de passar por um episódio desses?
Edson: É possível sim.
Fantástico: E você parece determinado a ser feliz.
Edson: Mas é.