Casamento entre Eu Sou a Lenda e Contágio resulta em entretenimento eficiente

  • Téo Santos
  • 26/09/2013 13:22
  • Cinemografia

Espécie de casamento entre os filmes Eu Sou a Lenda e Contágio, tendo como referência o clima de tensão e a correria do primeiro, junto à cientificidade induzida pelo segundo, Guerra Mundial Z, primeiro blockbuster estrelado por Brad Pitt desde Tróia - Sr. e Sra. Smith é um blockbuster, mas de espectro menor -, pode ser definido como uma peça de entretenimento bem realizada, cujo diferencial reside no foco duplo entre o drama vivido pelo personagem de Pitt (pai de família que, para manter a família a salvo após a misteriosa pandemia zumbi, deve voltar a exercer a função de investigador associado a Organização das Nações Unidas - ONU) e a ação desenfreada, união esta que resultou bastante saudável a obra, empregando uma energia distinta a mesma, apesar de sua trama um tanto quanto previsível.

Dirigida pelo eclético Marc Forster (O Caçador de Pipas), esta adaptação da obra de Max Brooks chama a atenção logo de cara pela estrutura narrativa mais próxima ao jornalismo, dando uma carga de veracidade ao filme que acaba por ser um de seus maiores trunfos quanto ao chamamento da atenção do espectador. Equilibrado no sentido de explorar ação sem que para isso deixe de focar nos dilemas das personagens destacadas no roteiro, especialmente os do personagem de Brad Pitt, a construção (ou costura de eventos) realizada pela equipe de roteiristas funciona a contento, pois a estrutura episódica - a bem verdade, o filme parece uma colagem de vários curtas-metragem, cujo protagonista é o mesmo - contribui para o fortalecimento da mensagem que o filme quer passar, que destaca a pequenez da humanidade perante um universo de eventos da natureza - naturais ou provocados - aos quais o homem não pode impedir. Méritos aos roteiristas que se debruçaram nesta colagem multifacetada: Matthew Michael Carnaham (Intrigas de Estado), Drew Goddard (O Segredo da Cabana), Damon Lindelof (Prometheus) e J. Michael Straczynski (A Troca).

É bem verdade que o foco global - o título já adverte - e a tentativa de dar um embasamento científico (ou pelo menos uma motivação científica) dá um certo diferencial a este filme, como também um maior foco no afetamento psicológico e físico daqueles que tem de enfrentar indivíduos contaminados por uma praga misteriosa que os deixa, além de loucos e irracionais, muito mais fortes e velozes que o ser humano comum. Com isso, as ótimas performances de Pitt e Mireille Enos (Caça aos Gângsteres) - esta com participação bastante reduzida - acabam se destacando, especialmente Pitt, que entrega um personagem bastante "humano", cuja coragem e perseverança não o transforma em um super-homem ou em um sujeito invulnerável, muito pelo contrário, são perceptíveis os sentimentos de dúvida, desolação, receio e fragilidade externalizados pelo personagem. Sendo assim, méritos ao belo (em todos os sentidos) que é Brad Pitt.

Gosto de Marc Forster como diretor e, apesar de um ou outro trabalho dele não me agradar por diversos motivos, é inegável a qualidade do mesmo como construtor imagético. Seu ecletismo é, ao mesmo tempo, tanto seu maior atributo quanto seu calcanhar de Aquiles, pois nem sempre seu estilo de direção se encaixa com a história/gênero abraçado pelo mesmo. Felizmente, o diretor suíço encaixou-se bem neste longa de ficção-científica distópico recheado de ação, pois, apesar de não mostrar nada de substancialmente novo, cataloga e compacta diversos elementos que geralmente são pouco desenvolvidos em outros filmes do gênero, dando ênfase tanto a questões políticas e sociais, quanto a pontos relacionados à natureza humana de sobrevivência. É certo que alguns destes temas acabam não sendo tão aprofundados pelo longa, até por que o mesmo é assumidamente uma obra atrelada a ação, mas isto não quer dizer que deixe de trabalhar a dramaticidade atrelada a esta própria ação. Ou seja, apesar da correria e da urgência serem o grande chamariz do filme, ambas não passam de consequências a um evento dramático anterior, ideia esta que é razoavelmente bem estabelecida pelos roteiristas e primorosamente decupada por Forster.

Entretenimento eficiente, Guerra Mundial Z sofre um pouco com a variação de qualidade de seus efeitos visuais - geralmente, quando digitais, os zumbis não parecem verossímeis -, mas compensa pelo ritmo frenético recheado de tensão, que nunca soa raso ou cansativo. A produção do filme passou por sérios problemas, especialmente quando em pós-produção, tendo inclusive seu desfecho passado por algumas mudanças. Particularmente não me senti incomodado com a resolução da obra - e com isso não digo que a mesma é espetacular, mas sim que serve bem ao propósito desta como um todo -, até por que o caráter episódico sugerido faz sentido, casando bem com a grandiosidade desta pandemia e conflito. Menos cerebral e mais emotivo, Guerra Mundial Z é um bom início para uma possível nova franquia, cuja muleta reside na qualidade do elenco e na provocação acerca da pequenez de poder do ser humano perante a pequenez concreta de um mal que pode ser percebido, mas nunca visto em sua essência. Certamente este é um filme feito para quem abraça essa ideia, porém , gostando ou não de zumbis (que possuem 'ene' definições), as chances de que o espectador seja conquistado pelo poder de fogo (literalmente) da obra é alta.