Ainda um dos maiores filmes de suspense/horror de todos os tempos

  • Redação
  • 15/10/2012 21:13
  • Cinemografia

Vencedor dos Oscar de melhor filme, melhor direção (Jonathan Demme, de Filadélfia), melhor roteiro adaptado (Ted Tally, de Dragão Vermelho), além de melhor ator (Anthony Hopkins, de Ritual) e melhor atriz (Jodie Foster, de Taxi Driver), O Silêncio dos Inocentes é mais do que um grande filme e hoje tido um clássico, é um marco da história do cinema, visto que é um dos raros filmes a vencer as principais categorias do Oscar - somenteAconteceu Naquela Noite, de 1934 e Um Estranho no Ninho, de 1975 -, assustar principalmente pelo fato de não mostrar, apenas sugerir eventos e, também, pelo fato de ter apresentado talvez o maior dos vilões tridimensionais de toda a história da sétima arte.

Desde a abertura, onde acompanhamos o isolamento de Clarice, personagem de Jodie Foster, durante uma corrida nos arredores da sede do FBI, aspecto este que será prontamente relacionado ao cerne da própria personagem, ao destaque que a mesma recebe da câmera por apresentá-la como praticamente única mulher inserta no ambiente masculino que é a sede da agência de investigação criminal dos Estados Unidos, culminando no seminal primeiro encontro desta com o instantaneamente icônico Dr. Hannibal Lecter (Hopkins), na instituição mental na qual este está instalado, percebe-se que O Silêncio dos Inocentes não é um thiller qualquer, pois o roteiro de Ted Tally (baseado no romance best-seller de Thomas Harris) é inteligente e brilhantemente arquitetado para despertar a curiosidade do espectador do início ao fim e a direção de Demme, que praticamente posta sua câmera como sob o ponto de vista de um animal prestes a atacar sua vítima (voyeurística, talvez), é de uma técnica e sensibilidade ímpares. Não à toa os quatro citados foram congratulados com as estatuetas referidas acima.

O que falar das performances de Foster e Hopkins? Talvez pelo carisma exercido por Hannibal Lecter - tanto graças à construção personagem quanto a performance marcante do ator -, a visão de Hopkins acabe sendo mais lembrada e discutida e isto não é de maneira algum errado, pois realmente sua composição beira à perfeição, visto que nos apresenta um personagem ao mesmo tempo sagaz, culto e carismático, mas também cruel e sádico, deixando o espectador num sério conflito de identidade acerca do gosto/não gosto automático que temos pelo personagem e, consequentemente, pela performance de Anthony Hopkins. Contudo, apesar desta ser inquestionavelmente primorosa, destacaria ainda mais a caracterização de Jodie Foster para sua agente Clarice.

Jovem, inexperiente e dona de uma fragilidade que salta aos olhos, a personagem não possui o mesmo carisma nem desperta tanto interesse quanto Lecter, por isso que, conforme Foster vai aperfeiçoando seus maneirismos e detalhes interpretativos, apresentando uma evolução contínua à personagem, esta ganha mais vida e, consequentemente desperta o interesse até então inativo do espectador, que provavelmente roerá todas as unhas e não aguentarão permanecer sentados no clímax derradeiro do filme. Talvez o grande momento da personagem no filme, é inegável o trabalho e a qualidade da atuação de Foster, que transmite todo o medo e insegurança de Clarice que já vinha sido sugerida durante todo o filme.

Derrotando gente do porte de Martin Scorsese, Oliver Stone, Robert De Niro e Susan Sarandon, além de ótimos filmes como JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar, Bugsy e até mesmo a animação da Disney A Bela e a Fera, O Silêncio dos Inocentes é um filme assustador, intimista e profundo, especialmente no que se refere ao estabelecimento da natureza humana - o que são as personagens de Foster, Hopkins e de Ted Levine, que vive o assassino serial apelidado de Buffalo Bill se não arquétipos de psichés humanas? -, que mostrou-se um sucesso há pouco mais de duas décadas e que continua a ser excepcional até hoje, tendo desde então poucos títulos chegado ao seu nível de excelência técnica e conceitual. Foram lançadas diversas outras obras que revisitaram elementos do filme, como a sequência divisora de opiniões Hannibal, dirigida por Ridley Scott e a prequel Dragão Vermelho, de 2002, que é um bom filme, mas é inegável que nenhuma destas (e outras mais) chegaram aos pés deste clássico.

NOTA: 10 de 10.