Revival anos 80 tem seus méritos, mas peca pela exagerada artificialidade

  • Redação
  • 04/09/2012 06:16
  • Cinemografia

Um dos filmes mais esperados de 2010, Os Mercenários foi vendido como uma grande reunião de alguns dos maiores astros de ontem e hoje do cinema de ação. Não que esta não aconteça - pois acontece -, mas passado o furor da estreia e o impacto inicial, fica mais fácil perceber que tal reunião surge a partir de um roteiro fraco e previsível - mesmo que o mesmo queria de todas as formas homenagear as produções de ação oitentista -, onde uma pena de brucutus de todas as ideias se digladiam ao lado de muito sangue virtual. O que deveria ser um entretenimento puramente escapista, cheio de humor e ação "real" acaba se mostrando um filme irregular, com personagens demais e trama de menos, recheado de clichês mal utilizados e que tem algumas boas cenas de ação, mas que soam mais artificiais do que o esperado, principalmente pelo uso excessivo de sangue digital, mais parecendo o efeito propositalmente estilizado do filme 300, por exemplo, que pode ter caído bem lá, mas aqui não.

Capitaneado pelo "recém-ascendido" Sylvester Stallone (Rocky, um Lutador) e co-escrito pelo mesmo juntamente a David Callaham (Doom), contando com as presenças de Mickey Rourke (Imortais), Jason Statham (Carga Explosiva), Jet Li (Herói), Dolph Lundgren (Soldado Universal), Terry Crews (série Todo Mundo Odeia o Chris), Randy Couture (Cinturão Vermelho), Eric Roberts(Batman, o Cavaleiro das Trevas) e Steve Austin, além das pontas de Bruce Willis(O Sexto-Sentido) e de Arnold Swcharzenegger (O Sobrevivente) - que por sinal protagonizam a melhor cena do filme -, Os Mercenários é um ensaio para um show que não dá certo, é um filme que parece bem intencionado, mas nunca sai do lugar comum, peca pelos exageros gráficos - o que é a primeira morte na cena de abertura se não a busca pelo público viciado em games estilo Counter Stryke - e pelas motivações risíveis dos personagens título, assassinos super-bem treinados que têm um sério problema com mulheres (Stalonne, Statham e Rourke, em especial).

Obviamente que não deveria se esperar nada muito dramático a cargo de um elenco deste naipe, entretanto nada justifica a obviedade da trama, muito menos o momento "quero um Oscar" produzido pelos roteiristas e pelo ator Mickey Rourke, no momento em que acompanhamos o grande twist do filme, quando o personagem de Stalonne decide voltar (sozinho) ao pequeno (e fictício) país sul-americano controlado por um ditador sanguinário apenas para salvar a vida de uma moça que acabara de conhecer, mesmo que esta não queira ser salva. E todo essa resolução se dá após a cena Oscar citado acima, onde Rourke declama um texto risível numa performance mais esdrúxula ainda, com direito a close nos olhos marejados.

É sabido que cinema é uma arte coletiva, sendo assim nada mais justo do que atrelar igualitariamente a Stallone, Callaham, Rourke e demais envolvidos pelo desperdício de potencial que acaba se tornando este Os Mercenários. Digo que o filme, num olhar geral, não é ruim, mas também nunca surpreende ou te deixa com a adrenalina lá em cima. Ele possui alguns bons momentos, mas estes são apenas pontuais. Já sua estrutura frágil é aparente do início ao fim, inclusive rendendo um vilão ridículo - o ex-agente da CIA vivido por Eric Roberts - com um final pior ainda. O engraçado é que, num filme que conta no elenco com gente premiada ou indicada ao Oscar como Sylvester Stalonne, Mickey Rourke e o próprio Eric Roberts, tenha como melhor intérprete o sumido (para os apreciadores de bons filmes) Dolph Lundgren, que nunca foi um às da atuação, mas que aqui consegue convencer sempre que está em cena, parecendo ser o único ator do filme que realmente entendeu a proposta original do projeto.

No mais Os Mercenários tem muito tiroteio, fraturas expostas, explosões, sanguinolência, frases de efeito, corpos definidos, discursos inflamados, motocicletas envenenadas e pouco cérebro, o que deve agradar a alguns, desagradar a outros e deixar o restante em cima do muro, posto no qual me encaixo, visto que curti a ideia de ter toda essa marmanjada de brucutus num só filme, mas é mais do que óbvio de que a sua realização foi mal-executada. Como teve um sucesso moderado nas bilheterias, uma sequência foi encomendada - desta vez com o acréscimo de mais alguns "ídolos" do cinema testosterona, como as presenças fixas de Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger e as estreia da lenda Chuck Norrise do fanfarrão Jean-Claude Van Damme - e aportará nos cinemas brasileiros no final deste mês. Fica a torcida para que as falhas deste filme tenham sido elucidadas para a sequência.

NOTA: 5.

Links:
- http://www.imdb.com/title/tt1320253/
- http://www.rottentomatoes.com/m/the_expendables/