“Vou para China, mamãe!”: por respeito à UNEAL e ao projeto que defendo

  • Redação
  • 25/08/2011 11:40
  • Cidade

Toda criança nordestina, vivendo em meio a tantas incertezas e, muitas vezes, projetando-as “na barra da saia das mães”, já escutou delas: “vá pra China, menino!”. Confesso que a sugestão carinhosa de minha mãe, no Sertão potiguar, instigou-me, e muito, a lutar por grandes realizações. Isso me custou, ao lado de minha família e de companheiros em momentos indizíveis, a felicidade e a honradez de estar integrado a uma comunidade acadêmica e de ter sido escolhido por ela para ser seu Reitor.

Não esperava que todo o bem que minha mãe intuiu chegasse a se realizar de forma tão completa: poder ir à China, representando a UNEAL como coordenador de um simpósio internacional e apresentando dois trabalhos acadêmico-científicos. Esses textos, com certeza, não foram frutos de minhas ações como Reitor. Outros, sim, depois que assumi a Reitoria, o foram; basta que seja observado o número de solicitações aprovadas para apresentação de trabalhos em eventos acadêmicos por pesquisadores (professores, técnicos e alunos) na UNEAL, fruto, inclusive da política de editais adotada por nós, para fortalecer o tripé ensino, pesquisa e extensão.

Os trabalhos que carrego na bagagem foram frutos de minha ação como professor e pesquisador, assim como aqueles que acabei de referenciar. Ciente de minhas responsabilidades como professor universitário, mantive o compromisso em articular a sala de aula à pesquisa e à extensão desde o dia em que fui aprovado por concurso público. Lembremos a todos dessa prerrogativa, hoje, vitória de muita luta, inclusive de nossos pais. Destaco esse fato porque recentemente percebi que alguns o esqueceram.

Os trabalhos que irão ser apresentados são resultado de pesquisas efetuadas no Núcleo de Pesquisa em Literatura-NUPEL, grupo de pesquisa sob minha liderança, cadastrado no CNPq e no Núcleo de Estudos Literários Interdisciplinares-NELI, também cadastrado no CNPq, sob a liderança do Prof. Mestre Antônio Xavier. Confesso a crença de que toda comunidade acadêmica se sentirá representada com nossa participação neste evento junto à comunidade que produz ciência no mundo e que foi, sobretudo, fruto de muito trabalho e merecedor de muito respeito. A carta de aceite foi emitida pelo conselho científico do SIMELP, reconhecido internacionalmente. Eu e o Prof. Antônio Xavier estamos indo participar do referido pleito por:

1. termos a clareza do que seja manter o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão que garante, para além da prescrição constitucional da “autonomia”, a efetiva resposta às vozes, não somente da comunidade acadêmica, mas de todas as pessoas que a cercam e dela precisam;

2. vislumbrarmos a excelência que tais eventos proporcionam em nossa formação continuada para respostas mais competentes como professores e pesquisadores da UNEAL, que hoje amarga uma carência de professores em condição de oferecer contribuições análogas; por conta da compreensão equivocada e perversa do protagonismo da gestão vigente do setor público alagoano.
O Simpósio Mundial de Estudos da Língua Portuguesa (SIMELP) é realizado a cada dois anos, em países usuários de Língua Portuguesa. A primeira edição ocorreu em 2008 na Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Já, em 2009, na Universidade de Évora, em Portugal. Este ano é a vez de Macau, China, receber participantes de todas as partes do planeta onde a Língua Portuguesa é falada e\ou foco de estudos.

Como professores da Universidade Estadual de Alagoas, participamos, eu e o Professor Antônio Xavier, de todas as edições anteriores e nesta eu, Professor Jairo José Campos da Costa, irei coordenar o Simpósio de Geografias Poéticas. Durante os últimos meses, atuei na seleção de trabalhos científicos de todo o mundo para este evento, pois, mesmo ocupando o cargo de Reitor, nunca paralisei as minhas atividades no Núcleo de Pesquisa em Literatura, sediado no meu Campus de origem, o Campus V da Uneal, em União dos Palmares.

À frente dessa instituição, tenho reunido esforços para garantir a participação de estudantes, professores e técnicos que solicitam apoio para comparecer a eventos de natureza acadêmica ou de qualificação profissional. Creio, como afirmei anteriormente, não ter recusado nenhum, além de ter sido, ao longo dos nossos 10 primeiros meses de gestão, um entusiasta da produção científica.

Neste caso, em função do indeferimento do processo PROC. 4104-1079/11 não será diferente. Iremos custear as despesas por conta própria, mesmo indo como representante desta universidade, por que entendemos como fundamental a representação dela em eventos que valorizam a pesquisa, o ensino e a extensão, tríade que reflete a própria razão de ser de uma universidade.

No dia de minha posse no Palácio do Governo, minha mãe, enquanto esbanjava a felicidade e o orgulho por seu filho ter sido lido como alguém que dignificaria uma grande universidade, falou-me aos ouvidos e ao coração: “vá em frente, meu filho, Deus o abençoará muito e a todos que fazem a UNEAL”. Creio sempre em sua sabedoria.


Sala de despachos da Reitoria da UNEAL em Arapiraca-AL, em 24 de agosto de 2011.


Prof. M.Sc. Jairo José Campos da Costa
Reitor da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL

Despacho publicado no Diário Oficial – Maceió, quarta-feira, 24 de agosto de 2011.
PROC. 4104-1079/11 de JAIRO JOSÉ C. DA COSTA E OUTROS/UNEAL = De ordem do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado, retornem os autos à UNEAL, para ciência do indeferimento do pedido de afastamento do País com ônus para o erário, visando custear as despesas decorrentes da participação dos requerentes no III SIMELP – Simpósio Mundial de Estudos da Língua Portuguesa, a realizar-se em Macau-China, no período de 30 de agosto a 2 de setembro do corrente ano, incluindo o Simpósio de Geografias Poéticas, tendo em vista que as atividades a serem desempenhadas nos eventos em comento não guardam similaridade com as funções dos cargos de Reitor e Pró-Reitor da Universidade Estadual de Alagoas.


SECRETÁRIO-CHEFE DO GABINETE CIVIL, ÁLVARO ANTONIO MACHADO.