Atletas arapiraquenses poderão deixar Alagoas por falta de apoio

  • Redação
  • 11/08/2012 11:39
  • Esporte

Muitos arapiraquenses talvez não os conheçam, mas eles são os irmãos Reinaldo e Berneval Ferreira, atletas de karatê e donos de importantes títulos nacionais, sul americanos e mundiais. O anonimato da dupla na cidade onde moram é algo oposto de quando eles estão na Europa, disputando torneios da modalidade. Lá, os atletas são considerados grandes nomes do Karatê mundial e, apesar de serem brasileiros, já conquistaram fãs e o carisma dos europeus.

No início deste mês, por exemplo, Reinaldo Ferreira foi o vice-campeão do European Máster Cup de karatê 2012, evento realizado em Ravensburg na Alemanha, e apontado como uma das principais competições do mundo. Os principais jornais e revistas do país destacaram a garra dos alagoanos em suas manchetes principais.

Mas, por trás da “fama” européia existe uma história de sofrimento, humilhação e, principalmente, muita força de vontade por parte dos atletas. No ano passado, eles tiveram que vender motocicleta, bicicleta, aparelho de DVD, câmera fotográfica e parte do tatame para viajar para a França, onde participaram do Open de Paris.

Segundo os irmãos karatecas, as secretarias municipal e estadual de Esportes não têm oferecido qualquer tipo de apoio para que eles possam representar o Estado e o país lá fora. “Já cansamos. Fomos nessas secretarias por várias vezes, levamos a documentação e quando retornávamos eles diziam que haviam perdido os documentos e mandavam a gente providenciar tudo de novo, ou seja, manobra para ganhar tempo e nos vencer pelo cansaço”, disparou Reinaldo.

Os atletas disseram ainda que foram os responsáveis pela implantação do projeto de Karatê nas escolas de tempo integral de Arapiraca. O trabalho era voluntário, onde a contrapartida da Prefeitura era apenas garantir apoio nas viagens internacionais. “Esse apoio só funcionou por algum tempo e há cerca de três anos esqueceram da gente, sem dar satisfação. Não estamos pedindo favor a ninguém, gostaríamos apenas de sermos reconhecidos como atletas de carreira de nível mundial e não como amadores. Quando conversamos com atletas de outros países e dizemos que viajamos somente com as passagens e quase nenhum dinheiro no bolso eles ficam horrorizados”, frisou Berneval Ferreira.


FOME E FRIO

Os karatecas admitem que, se não fosse a perseverança, eles teriam desistido do sonho em alguns momentos da carreira. Um desses momentos aconteceu em 2006, quando os atletas viajaram pela primeira vez para a Alemanha. Com fome e sem dinheiro, eles forraram o chão com os seus quimonos e dormiram num corredor ao lado de um ginásio, num frio de 14 graus. A alimentação era a base de maçãs, colhidas das macieiras plantadas no jardim do centro esportivo. “Naquele momento senti um dos maiores constrangimentos da minha carreira. Pensei em desistir, mas meu amor pelo esporte era bem maior.

Em 2009, na cidade de Guadalajara, no México, os atletas passaram 15 dias dormindo nos bancos da sala de embarque do Aeroporto. Como foram surpreendidos pelo preço das diárias dos hotéis, eles resolveram dormir em barracas de camping, num parque da cidade, mas foram impedidos pelos seguranças do local.

Em 2007, o atleta Reinaldo Ferreira ficou muito próximo de disputar a seletiva para os jogos Pan Americanos do Rio de Janeiro, mas, por não ter conseguido as passagens aéreas, acabou ficando de fora da competição. "As vezes dá vergonha em representar Alagoas e não ser reconhecido".


DEIXAR O ESTADO

Num momento de desabafo, Berneval, deixou claro que existe uma desmotivação dos atletas em participar dos torneios representando Arapiraca e Alagoas. Já pensamos em deixar o Estado, mas pensamos na nossa mãe. “A mãe da gente talvez seja o único motivo que ainda nos segura por aqui. Ela tem 71 anos e mora com a gente. Já está em idade avançada e não iríamos deixá-la sozinha”, frisou.

O atleta disse ainda que ambos já receberam convites de clubes de karatê da França, Chile e Alemanha. A partir do momento que o convite for aceito, eles passariam a representar esses países e não mais o Brasil.

Os irmãos também mantêm um projeto social que beneficia 35 crianças de 6 a 13 anos em situação de vulnerabilidade.”Já tiramos vários jovens do mundo das drogas, utilizando apenas o esporte como arma. O apoio que recebemos vem de três importantes empresas privadas da cidade de Arapiraca”, disseram.


ESCLARECIMENTO

Nossa equipe de reportagem tentou fazer contato com o secretário de Esportes de Arapiraca, Kleber Torres, mas não obteve êxito. Porém, a assessoria de comunicação da Prefeitura esclareceu que existia uma parceria logo no início, mas as viagens internacionais tornaram-se constantes, o que tornou financeiramente inviável para a Prefeitura. Ainda segundo a assessoria de comunicação, o Município não pode beneficiar apenas um atleta, mas todos os que representam Arapiraca.

A equipe de reportagem também tentou contato com a Secretaria Estadual de Esportes, mas não conseguiu falar com ninguém.