Afinal de Contas, o Amor Mata?

  • Milliam Nascimento
  • 28/11/2013 11:03
  • Milliam Nascimento

Na semana em que comemoramos o dia da não violência contra a mulher, não poderia deixar de comentar sobre o assunto.

Temos visto, recentemente, vários casos de mulheres assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros. Parece que esse número tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Várias são as tentativas de explicar porque alguém em “nome do amor” comete tal ato contra a pessoa que justamente diz mais amar.

Há várias definições para o amor, uma delas diz que o amor é um sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração. Sendo assim, não é possível considerar como sendo amor o sentimento da pessoa que usa de violência, que maltrata, que violenta, que mata!

Nos últimos dias, infelizmente, acompanhamos o sofrimento de uma família com o desaparecimento de uma jovem. E depois, vimos a história se desenrolar com um desfecho triste, onde o amor foi utilizado como motivo de justificativa para um ato torpe.

É possível ver tantas dessas histórias acontecerem diariamente: homens que matam as mulheres que dizem amar. As justificativas são as mais variadas. Normalmente se referem ao fato dessas mulheres não quererem manter um relacionamento que, na maioria das vezes, é marcado pela violência, em suas mais variadas formas, pelo desrespeito e pelo medo. Outros tantos, utilizam o argumento da defesa da honra como justificativa.

O que podemos observar é o sentimento de posse: “se ela não for minha, não será de mais ninguém”. O machismo da nossa sociedade é quem produz esse tipo de argumento. Somos criados de uma maneira em que a mulher, apesar de todas as suas conquistas, ainda é vista como objeto. Objeto de satisfação do homem e que serve, apenas, para satisfazer seus desejos, suas vontades, sem direito a opinião, sem direito a desejar também.

Muitos se perguntam porque essas mulheres mantêm relacionamentos violentos e continuam com eles ou perdoam essas situações, muitas vezes buscando justificativas para tais atos. Essas mulheres muitas vezes não conseguem sair desses relacionamentos por medo, por insegurança, pela carência ou dependência (emocional e/ou financeira). Muitas delas, acreditam que conseguirão mudar essa situação e fazer com que seus companheiros mudem e que o amor seja a salvação dessa relação. Outras aprenderam, de alguma maneira, que precisam manter o relacionamento, que as coisas são assim mesmo e só resta aguentar.

Podemos não compreender e não cabe a nós julgar. O que acho importante é compreender que nem sempre há algum tipo de transtorno mental ou de personalidade por trás desses atos violentos. Claro que há casos que sim. Mas, é comum, quando nos deparamos com esses casos rotular o agressor como psicopata. O psicopata nem sempre é violento. Ele não se compadece com o sofrimento alheio, não sente culpa, mas isso não quer dizer que usará de violência.

Na situação da jovem assassinada pelo ex-companheiro temos poucos indícios para fundamentar uma opinião. De acordo com as informações obtidas não acredito que o rapaz tenha algum tipo de transtorno. Acredito que ele não soube lidar com o fim do relacionamento e isso fez com que chegasse a tal extremo. Não vejo indícios de que ele não pensou nas consequências. Ele planejou, teve tempo de se arrepender, não foi um acidente. Com relação ao seu suicídio pode-se supor que a culpa ou remorso foi o motivador para tal ato e pela carta que deixou se pode supor, também, que houve planejamento.

Mesmo que houvesse algum tipo de transtorno, não há justificativas! Há a compreensão que um transtorno poderia prejudicar o senso crítico e de realidade e assim prejudicar a tomada de decisão. Porém, quando não há um diagnóstico anterior fica difícil precisar se no momento do ato o indivíduo estava realmente consciente de suas ações. E para isso é preciso muita cautela dos profissionais que avaliarão o caso.

Respondendo à pergunta inicial: o amor não mata! O que mata é o egoísmo, o sentimento de posse, de impunidade, o desequilíbrio emocional, dentre outros motivos.

Deixo aqui o meu protesto e a minha indignação, principalmente enquanto mulher! A sociedade não pode permitir que tais atos continuem acontecendo. É preciso uma mudança de atitude, de pensamento. E que as leis possam ser efetivadas e garantir a proteção e a devida justiça para tais casos. Quantas mais precisam morrer, sofrer, para que alguma coisa mude?

Até o próximo post.