Consumo de crack aumenta entre os moradores de rua de Arapiraca
- Redação
- 04/08/2012 11:39
- Polícia
O crack, substância alucinógina que até pouco tempo era conhecida como a droga das grandes metrópoles, hoje já faz parte do cotidiano de pequenas cidades do interior brasileiro, entre elas Arapiraca. A cidade, devido a privilegiada posição estratégica no mapa rodoviário de Alagoas, passou a ser rota dos traficantes, que repassam o crack aos intermediários, chegando até aos usuários finais, a maioria deles moradores de rua que, em alguns casos, chegam a consumir a droga em plena luz do dia.
Pode-se dizer que em Arapiraca já existe uma espécie de “cracolândia”. O nome surgiu na cidade de São Paulo, num local onde traficantes e usuários se reuniam para comercializar e consumir a droga. A “cracolândia” arapiraquense funciona no centro da cidade, nas imediações da praça Ceci Cunha, aos fundos de grandes depósitos. Ao passar pelo local, geralmente nos finais de tarde e início da noite, é comum presenciar pessoas, muitas delas menores de idade, consumindo não somente o crack, como também fumando maconha e cheirando cola de sapateiro ou solvente de tinta.
Nossa equipe de reportagem conversou com alguns moradores de rua e constatou que o crack ganhou a preferência entre eles. O morador de rua, de 19 anos, que preferiu se identificar apenas como “orêia”, disse que há 5 anos é viciado em entorpecentes e no início deste ano também passou a ser viciado em crack. “Comecei cheirando cola e fumando maconha. De uns meses pra cá também passei a ser usuário do crack, mas o preço ainda é alto e não tenho como comprar todos os dias”, disse o jovem que aos 13 anos de idade perdeu os pais num acidente e meses após estar morando com uma tia, foi expulso de casa.
Ao ser questionado sobre quem são os atravessadores da droga, “orêia” alegou que a maconha, cola de sapateiro, solvente de tinta são comercializados e divididos entre os próprios moradores de rua, mas disse que desconhece quem são os fornecedores. Sobre o crack, ele revelou que pessoas desconhecidas e em diferentes veículos circulam pela área, geralmente a noite, oferecendo a droga para os moradores de rua e usuários. “Cada pedra de crack chega a ser comercializada por até R$ 2 reais”, disse.
O consumo de drogas no centro de Arapiraca aumenta ainda mais após o fechamento das lojas do comércio. É neste momento onde a escuridão divide espaço com pessoas em estado de zumbis, completamente transformadas e transtornadas, que tentam driblar a fome, a falta de um lar, de um emprego e, muitas vezes de uma família, injetando, inalando e tragando substâncias que, momentaneamente, proporcionam uma sensação de liberdade, coragem e força, deixando de lado a amarga realidade do dia-a-dia.
J.M.S. foi outro adolescente que nossa equipe de reportagem conversou. Ele disse que o vício no consumo da maconha o obrigou a vender tudo o que tinha, chegando ao ponto de cometer furtos. “Eu tinha bicicleta, celular, relógio e vendi tudo pra comprar a droga e pagar dívidas. Cheguei ao ponto de furtar objetos em lojas para trocar por drogas.”, disse J.M.S., hoje órfão de pai e mãe e morador de rua.
Segundo ele, após a morte da mãe, em outubro de 2007, os nove irmãos iniciaram uma verdadeira batalha para dividir o único bem da família: uma casa avaliada em apenas R$ 10 mil. Após a partilha, o jovem deixou Taquarana, sua terra natal, e hoje ganha algum trocado como guardador de carros em Arapiraca, dormindo debaixo da marquise de uma loja na rua São Francisco, no centro da cidade.
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