Pesquisa diz que falta de parceiro e baixa escolaridade afetam saúde mental da mulher

  • Redação
  • 04/06/2012 13:21
  • Cidade

Objeto de pesquisa em muitos países, a desnutrição infantil apresenta diversos fatores de risco em áreas de baixa renda e um deles é o comprometimento da saúde mental materna. Pesquisa realizada em Alagoas pela mestre Adriana Paffer, do mestrado em Nutrição da Universidade Federal de Alagoas, tendo como alvo mães das zonas rural e urbana do Semiárido alagoano, constatou que nessa região a grande prevalência dos transtornos mentais das mulheres não está associada à desnutrição de seus filhos, e apresenta como fatores de riscos a falta de companheiro e baixa escolaridade.

Adriana Paffer explica que o resultado do estudo constata uma situação incomum, porque em pesquisas realizadas com o mesmo foco normalmente os transtornos maternos têm associação com a desnutrição infantil. No estudo realizado, observou-se que o transtorno mental materno ocorreu tanto entre mães de crianças desnutridas, como entre mães de crianças com adequado estado nutricional, mas que os fatores de risco associados foram diferentes em mulheres da zona rural e da zona urbana.

“No ambiente rural, onde 56,2% das mulheres pesquisadas apresentaram transtornos mentais, o fator associado foi a falta do companheiro, enquanto na área urbana, a baixa escolaridade sobressaiu-se como fator associado aos transtornos mentais que estavam presentes em 43,8% das mulheres. Observou-se também, que a prevalência dos transtornos mentais comuns é elevada entre mães tanto na área urbana como na rural”, afirma a pesquisadora.

Denominado de “Fatores de risco para saúde mental materna e seu impacto sobre o estado nutricional infantil”, o estudo científico se deu em 38 municípios sertanejos com amostra representativa de 288 mães de crianças de até 2 anos de idade, na faixa etária de 15 a 45 anos, sob a o orientação do professor e psiquiatra Cláudio Torres de Miranda. Para a pesquisa foi aplicado o questionário Self Report Questionnaire (SQR -20), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser utilizado como instrumento de rastreamento de transtornos psiquiátricos.

O estudo científico integrou ampla pesquisa, também concluída, sobre “Nutrição e saúde da população materno-infantil da região Semiárida de Alagoas”, coordenada pelo professor Haroldo Ferreira, que também co-orientou o trabalho de Adriana Paffer.

Artigos

O resultado da pesquisa gerou a publicação, em 2011, de um artigo científico na revista “Journal of Epidemology & Community Health” (Revista de Epidemiologia e Saúde Comunitária), editada na Inglaterra. No último mês de março, a pesquisadora Adriana Paffer e seu orientador Claudio Miranda também publicaram na revista “São Paulo Medical Journal” o artigo “Prevalência de transtornos mentais comuns em mães do semiárido de Alagoas e sua relação com o estado nutricional”. Recentemente, os dois foram convidados para a publicação de artigo sobre o assunto pela Revista “Salud (i) Ciencia” da Rede Científica Íbero-Americana, editada na Argentina que faz a divulgação de pesquisas relevantes para profissionais de saúde da América Latina.

Intervenção social

O orientador da pesquisa, Cláudio Miranda, que é doutor em psiquiatria e professor associado da Faculdade de Medicina (Famed) da Ufal, diz que em muitos países ou até em outros Estados brasileiros que realizam pesquisa com o mesmo foco, os transtornos mentais das mães estão associados à desnutrição de seus filhos. “Essa mesma realidade encontrei numa pesquisa que realizei em Maceió, no Centro de Recuperação Nutricional da comunidade do Conjunto Denisson Menezes, circunvizinha ao Campus da Ufal”.

Ele explica que o resultado da pesquisa, em termos da alta prevalência de transtornos mentais nas mães, na região sertaneja, é preocupante e sugere como intervenção para que se tenha uma nova realidade, um maior suporte social às famílias criando melhores condições de vida para a população. “É preciso haver a capacitação de equipes do Sistema Único de Saúde [SUS] por meio de seus núcleos atuantes que trabalham diretamente junto às famílias, a exemplo dos Programas de Saúde da Família (PSF) e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)”, enfatiza.

Claudio Miranda destaca também a importância do trabalho de sensibilização com a população para que atente quando um familiar apresentar sintomas do transtorno mental. “Mães com a saúde mental comprometida mostram-se incapazes de cuidar de seus filhos como devem, mas a sua incapacitação normalmente é confundida como irresponsabilidade, pelo total desconhecimento que existe sobre o acometimento da doença”, finalizou.