"Antes dos concursos, métodos de indicação para a polícia eram coronelistas"

  • Redação
  • 25/06/2011 03:45
  • Maceió
Jonathas Maresia - Arquivo
Francisco Tenório chegando ao IML na época de sua prisão
Francisco Tenório chegando ao IML na época de sua prisão

A relação entre polícia e política em Alagoas ainda vem se redesenhando ao longo dos anos. Prisões recentes de ex-deputados, a exemplo dos irmãos Francisco e Zé Maria Tenório, acusados de homicídio e formação de quadrilha, respectivamente se tornaram um símbolo disso. Francisco Tenório é, inclusive, delegado da Polícia Civil do Estado.

“A Polícia é o instrumento de coerção do Estado. Mas, como o Estado em que vivemos é democrático de direito a força policial é um meio de coerção do povo contra ele mesmo. No caso dessas duas prisões a Polícia apenas fez o trabalho dela”, explicou o sociólogo Adalberto Café, lembrando que o histórico de violência política em Alagoas é típico do coronelismo.

Ele lembrou que esta relação é explicada no livro “Metamorfose das oligarquias. “As oligarquias colocarem representantes seus nos postos políticos. Temos que entender como esses políticos se transformaram em militares. Fizeram concurso ou foi por indicação? É preciso saber quem indicou, pois isso explicaria os resquícios da forma coronelista de conduta. O cargo ocupado serviria para o patrono obter alguma proteção para os seus desmandos”, disse.

O sociólogo destacou que o foro privilegiado é um dos fatores que contribui para a impunidade. “Políticos com mandato respondem em esferas superiores, sofrem uma ação civil pública e não é o povo que vai dizer se são culpados ou não. Existe uma diferença social. O advogado que atirou em um empresário na Pajuçara não ficou preso porque aqui não há local adequado”, ressaltou.

Ainda segundo Adalberto Café, antes de 1988 delegados de polícia, diretores de escolas e até professores eram indicados por políticos. Assim, a obrigatoriedade do concurso público, dificultou a entrada permanente do indivíduo no serviço público.

"A entrada por indicação passa, portanto, a ser por duração limitada, através do cargo de confiança. O indivíduo só fica enquanto o político está ativo. Quando ele sai, o comissionado também sai. Isso explica o porquê dos políticos estarem sendo presos. A meritocracia não assume compromissos de lealdade pessoal tão comuns em tempos de coronelismo. Mas, aqui se o político é influente, podem haver ingerências na prisão”, reiterou ele.