Conheça a cidade construída para substituir Pripyat, perto de Chernobyl

  • Redação
  • 26/04/2011 06:13
  • Brasil/Mundo

Há exatos 25 anos, o colapso do reator 4 de Chernobyl levou à retirada forçada de dezenas de milhares de pessoas do entorno da usina. Pripyat, maior núcleo urbano próximo dali, com quase 50 mil habitantes, foi totalmente esvaziada em questão de horas e os moradores nunca puderam retornar.

Logo após o acidente, o governo soviético decidiu construir uma nova cidade, chamada Slavutich, para abrigar parte os funcionários da usina, que continuou funcionando.

O núcleo urbano fica perto de Chernobyl, mas fora do raio de 30 quilômetros da zona de exclusão da usina. Foi construído em apenas dois anos. Cada bloco de prédios foi erguido por uma diferente república soviética, num esforço conjunto para fazer frente ao maior desastre nuclear da história. É uma pacata cidade numa das regiões mais ermas da Ucrânia.

Diariamente, centenas de trabalhadores partem diariamente de trem de Slavutich para Chernobyl. Curiosamente, no trajeto, o trem sai da Ucrânia, passa por Belarus e volta a entrar em território ucraniano.

Os funcionários atuam no controle da radiação, na administração do que sobrou da usina. Apesar de já não produzir energia, o complexo é considerado uma planta em funcionamento, já que ainda guarda combustível nuclear.

A cada fim de tarde, o trem dos trabalhadores de Chernobyl chega em Slavutich. Um funcionário ouvido pelo G1 conta que ainda há 3 mil pessoas trabalhando ali. Ele foi contratado já depois do acidente. Até 2000, ainda se produzia energia no complexo, que então tinha 12 mil pessoas.

Agora, com o fim das atividades, há cada vez menos empregados por lá. Isso é um problema, porque em Slavutich não há muita coisa para se fazer além de trabalhar na extinta usina. Os jovens da cidade acabam indo embora por falta de oportunidades.

A prefeitura luta para criar alternativas, como conta um funcionária à reportagem do G1, mas além da empresa de energia nuclear, a principal fonte de renda são as pensões do governo.

Testemunha do desastre

Valeriy Dmitriev é ex-engenheiro do departamento de segurança de Chernobyl. Ele foi exposto à radiação em 1986, mas não teve sequelas graves. Teve um leve problema de estômago, mas acredita que, por ter uma boa forma física na época, saiu praticamente ileso.

"Quem bebia e fumava, levou a pior com a radiação", diz Dmitriev. Logo após o acidente, os chamados liquidadores, homens recrutados de todos os cantos da União Soviética para descontaminar a região, recebiam bebida alcoólica para suportar a tarefa ingrata.

O engenheiro aposentado conta que percebeu que quem bebia absorvia uma dose maior de radiação. Ele trabalhava diretamente na medição dos trabalhadores e garante que muitos dos que bebiam e se expunham à radiação morreram de cirrose.

Cada um dos liquidadores tinha um dosímetro, um contador individual de radiação. Em alguns casos, não chegavam a ficar nem um minuto trabalhando na zona do desastre. Mas muitos foram expostos a níveis excessivos e acabaram morrendo ou ficando com sequelas. No total, mais de 700 mil pessoas estiveram envolvidas na operação de contenção de Chernobyl e têm o status de liquidadores.